Ferocidade do lobo
Bornais na relva
Cheiro de mato
Tremor na terra
Na vida é preciso ter calma
Tigre, tigre, viva chama
Que as florestas da noite inflama,
Que olho ou mão imortal podia
Traçar-te a terrível simetria?
Incubus rompantes
Grandezas de pedra
No cume do touro
Unhas cravadas de heras
Na vida é preciso ter pressa
Em que abismo ou céu longe ardeu
O fogo dos olhos teus?
Com que asas ousou ele o voo?
Que mão ousou pegar o fogo?
Cheiro de touro
Tremor de heras
No cume do lobo
Unhas cravadas na terra
Ter calma ter pressa
Que arte e braço pôde então
Torcer-te as fibras do coração?
Quando ele já estava batendo
Que mão e pés horrendos?
Grandezas rompantes
Ferocidade na relva
Incubus de mato
Bornais de pedra
Na vida é preciso
Que cadeia? Que martelo,
Que fornalha teve teu cérebro?
Que bigorna? Que tenaz
Pegou-lhe os horrores mortais?
Quando os astros alancearam
O céu e em pranto banharam,
Sorriu ele ao ver seu feito?
Fez-te que fez o cordeiro?
Fez-te quem fez a pétala da flor?
A um dando enlevo e ao outro estupor?
Teu olhar sanguinário de brasa acesa
Contempla a caça, mas acaso vê a princesa?
Vê! E de golpe mortal já está ferido
Por tê-la visto, por tê-la cheirado, por tê-la sentido.
E se agora o frio semblante da morte vier
Lerá em seus olhos a paixão da mulher.
Olhos de cristal, carne de marfim e pele de veludo
Enfim está jogada às garras deste ser hirsuto,
Cujo instinto nunca se engana, nunca é indeciso.
Instinto que tem voz e exclama: Viver eu preciso!