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Vem caminhando na direção de nosso visitante Daquipralix, trazendo na mão uma margarida onde faz malmequer, bem-me-quer. Terminando as pétalas joga fora a haste da margarida
- Há também no parque os que pesarosos lembram dos amores desencontrados e não correspondidos. Alguns amores tímidos e escondidos nunca são declarados, vivem como Amores Selados. Raros são os amores como o de Acteon e de Sêmele. Engraçado, não consigo deixar de pensar nesses personagens! Parece que o que chamamos de amor não é bem o amor quando pensamos em amores que exigiram tudo até a própria forma da vida.
Enquanto falava, o Voltarindo tirou a rosa que trazia dentro da roupa e ficou contemplando-a enquanto seguia em seu discurso.
- Talvez tenhamos com a palavra amor a mesma dificuldade que eu comentei antes com relação à palavra mãe, que quando dita, cada um imagina a sua mãe e no fundo, apesar da palavra parecer universal, nunca dá conta do particular que no fim é o real. Quem sabe na rima fácil do amor e da dor haja uma brincadeira divina que faz amálgama do particular e do universal e uma liga alquímica ou a própria pedra filosofal que nos mitos dava a cura para todos os males, a imortalidade e transformava chumbo em ouro. Dizia o profeta Khalil Gibran: “Quando o amor vos chamar, segui-o, mesmo que os seus caminhos sejam íngremes e penosos. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos a ele, ainda que a espada dissimulada nas suas penas vos possa ferir. E quando ele vos falar, crede nele, embora a sua voz possa estilhaçar os vossos sonhos como o vento do norte devasta o jardim. Pois assim como o amor vos coroa, também vos crucifica. E, tal como serve para o vosso crescimento, também serve para a vossa poda. E como ele se ergue até às vossas copas e acaricia os vossos mais tenros ramos que esvoaçam ao sol, também às vossas raízes ele desce e as sacudirá no seu apego à terra. Quais feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração. Ele vos debulha para expor sua nudez. Ele vos peneira para liberta-vos das palhas. Vos moi até à alvura. Vos amassa até vos tornardes macios. E, depois, vos entrega ao seu fogo sagrado, para vos tornardes pão místico no banquete divino. O amor fará todas essas coisas de vós, para que possais conhecer os segredos do vosso coração e vos tornardes, através desse mesmo conhecimento, um fragmento do coração da vida.”
Daquipralix guarda novamente a rosa dentro de sua roupa, mas quando tira sua mão um espinho havia furado seu dedo e podia se ver uma gota de sangue.
- É belo, não é?! Mas dói um pouquinho... Para compensar esse peso todo, o Rei sem nome faz presente aqui também a poesia Mimôr. Mimôr é a poesia que inaugura um movimento literário chamado infantilismo. Lamentavelmente o movimento é um natimorto pois Mimôr foi a única poesia nascida no movimento que se acaba com ela mesma.
O Passeio Público é um lugar ideal para devaneios, sonhos e até alguns pequenos tumultos, por isso também estão aqui o Pirata, o Balseiro e o Poeta. Além da palavra que cria sua autonomia, os personagens dos devaneios também criam sua autonomia e como veremos nem sempre se entendem. É curioso ver o personagem se insurgir contra o seu criador, e mais curioso ainda o personagem do personagem se revoltar contra os dois primeiros. Podemos deduzir que nem pessoas e nem personagens costumam se conformar com suas sinas. E ainda, por tabela confirmamos o que o escritor Oscar Wilde dizia: “as nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros”. Parece que ninguém leva a sério a tragédia do outro. Mas será nosso 29 destino todo escrito e determinado como na palavra dos árabes, “Maktub”? Estará tudo decidido ou será como pensava Arthur Schopenhauer: “o destino embaralha as cartas, e nós a jogamos.”? Se assim for que parem todos de reclamar e que tomem as rédeas de seus destinos. E ao final existe para nós algo à que somos destinados? A morte, fim de tudo, parece um destino inexorável. Será o amor também algo destinado a cada um de nós? Ah, o amor, sempre o amor! Enfim, deixamos o parque levando o perfume de sua beleza com Poesia E Sonhos e a sua Serenata.