Vem Daquipralix Voltarindo em sua usual roupa de bobo, com seu chapéu triplo, mas desta vez com uma gravata amarrada ao pescoço que em nada combina como o resto. A tiracolo traz uma valise na mão. Começa, então, seu discurso:
-Não seria completo o passeio pela cidade sem passar pela Câmara Municipal. A vida política da cidade é essencial, pois a cidade é o lugar de conviver. E política, devemos lembrar, é a arte de negociar, fazer se encontrarem desejos opostos em um ponto médio. Política é a arte mesmo de conviver, mas como é difícil conviver. Eis que o outro se impõe diante de nós a força de nossa dependência para sobreviver e para ser aceito e reconhecido. Precisamos do outro que cuida de nós, que nos vê e nos reconhece para que sejamos o que somos. Precisamos do outro para fazer frente a luta de produzir tudo de que necessitamos e construir nosso mundo. Porém, o outro tem seus próprios planos, desejos e valores. E que valores são esses? De união e bondade? De exclusão e exploração? Nobreza e corrupção podem se esconder no coração humano.
Note que cada estação de nosso passeio traz novas perspectivas e emoções e isso tem um preço. Não passamos incólumes ou sem consequências por aqui. Cada estação em que paramos em nossa viagem está no lugar certo de uma sequência bem planejada. Do parque, tão pueril e onírico, passamos para o lugar dos assuntos sérios. Poucas coisas afetam tão gravemente a vida como o convívio. Uma vez feitas essas advertências devemos nos lembrar que antes de ir para a questão da política e do convívio devemos considerar uma outra questão que antecede tudo isso: a natureza humana. O atento visitante poderá notar que na Raça Gente e em outros lugares o que temos são denúncias sobre o status de como vivemos e como se opera o absolutismo do ego no meio humano. Caro viandante, se prepare para essa imersão!