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Quem é você, homem, que se inquieta na ansiedade de colocar-se diante da Esfinge devoradora? Já tens a resposta do enigma, mas ainda assim quer ficar diante do monstro, o divino mensageiro da catástrofe! Tens a resposta, mas não sabe pronunciá-la. És como uma criança balbuciando sílabas, mas não consegue refrear teu desejo, pois só nele sente-se vivo! E viver já não basta! Queres ferver o sangue e devorar a substância da palavra e sequer sabe que inconsciente é isto que busca. Quer a experiência e ainda não sabe que só nela o conhecimento vira sangue, teu sangue vira o saber e teu saber é o abraço definitivo da vida. Reconhece a palavra de ordem? Sacrifício... sacro ofício. Somente na dor mais aguda acontece o parto da beleza que irrompe das entranhas da madrugada da vida. Saber do homem seu último segredo é penetrar na natureza e afrontar o divino. Grande candidato à Prometeu, não te arriscarias se soubesse por onde vais trilhar! Serás acorrentado ao Cáucaso, desconheces as correntes que se forjam do mesmo metal que compõem os cravos da gigante roda. Estais pronto pra encarar a roda do moinho? Suspeita o que será a vertigem que te engolirá no retorno eterno de todas as coisas. Anseias pela desmedida que ornamenta a paixão da vida. Mas, a roda gira pelo grão e pelo farelo, na náusea das pequenezas e das conspirações que erguem a escravidão apenas pelas miúdas mesquinhezas. No moinho serás o farelo se não souberes ser o moleiro. Só depois de moído, ultrajado e demolido em cada fibra conhecerás o segredo que tanto almejas.
Eu sou aquele que era você, hoje. Estou em queda vertiginosa pelo céu infinito, em luta feroz com o anjo que vira monstro. Violenta é minha luta, caindo e abraçado por laços de um amor que não está à prova dos homens que não tem paladar para o impossível. Hoje eu sou o dragão que protege o tesouro no mais profundo da gruta escura. Sou eu o esquecimento que te arranca o segredo diante de teus olhos após um átimo de vislumbre que combina euforia e angústia. Depois de todos os gritos e lágrimas ao longo da viagem pelo espaço do nada, no retorno a si mesmo nos encontraremos eu e você, ousado viajante. Descobrirás o reino escondido, o único reino em que o homem é soberano, único e soberano. Neste segredo terrível do dever vislumbrará que cada lágrima, cada sorriso, cada toque, cada tapa e cada beijo eram simplesmente moral. Eis que aí de volta aonde era, conhecerá a gênese dos deuses e o traço que como linha perdida, emerge estirada rasgando a névoa e recompondo teu ser. E sim era você, toda humanidade e o gozo da alegria na tragédia que o permitiu ser o que é na sua singularidade. Olhe-se no espelho criatura e autor de si mesmo. Descubra que só podes ser o anjo da luz quando abraçar a realidade de que és o maldito que o destino expulsa de seu reino e que nada contém no desejo ardente de reencontrar o que foi perdido.
O pai olha seu filho se indo pelo que caminho que fora proibido pela maturidade, ignorado pela inocência e desejado pela juventude. A dor lhe revira o coração, uma reminiscência o faz sorrir levemente e a palavra que lhe escapa pela barreira dos dentes é: -Deus te abençoe, meu filho!